Fui entrevistado pelo artista visual e professor Binho Barreto no podcast ClebCast. Conversamos sobre minha trajetória como pesquisador, falamos sobre história da cidade, política, urbanismo e cultura urbana, passando pela importância dos coletivos na cidade.

A entrevista completa está no Spotify, iTunes, Youtube e Soundcloud. Confiram!

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Japão, 2023. Aquele foi o ano em que pela primeira vez eu aceitei ser um sobrevivente. Eu nunca imaginei que precisaria fugir para tão longe para escapar e conseguir respirar com algum anonimato e segurança. Lembrei que os meus sonhos sobre o futuro eram muito parecidos com os sonhos de futuro dos meus pais: Eu sempre me imaginava com 40, 50 anos, finais de semana quentes e úmidos, nadando com pouca roupa em um rio junto com amigos e familiares. 

Japão, 2015. Eu estava procurando por uma imagem para ilustrar uma ilusão. Resolvi embarcar no metrô que passava ao lado da casa da minha companheira para ir até o final da linha e descobrir se a paisagem seria muito diferente em outro bairro. Quando me dei conta, eu tinha ido longe demais. O final da linha era em outra cidade. Lá eu só encontrei velhos que passavam por mim sorrindo e cerrando os olhos. 

Japão, 2010. O Seminário Internacional de Ficção Visionária seria na Universidade de 近畿大学 em Osaka, no Japão. Eu iria falar sobre como os brasileiros das classes populares imaginavam o futuro na década de 1980. Minhas principais fontes para aquela história do futuro das pessoas eram depoimentos de brasileiros sobre o que fariam caso ganhassem na loteria. Muitas pessoas tinham na ponta da língua que a primeira coisa que fariam, caso ganhassem, seria comprar um sitio ou um terreno em áreas distantes. A Loteria Federal em 1983 havia sorteado seu maior prêmio: 200.000,00 Cruzeiros para  o número 49890.

Em 2019 fui convidado pelo Museu de Artes e Ofícios para realizar a pesquisa e curadoria da exposição “BH em uma estação” sobre a Praça da Estação, incluindo seu conjunto arquitetônico e a história da cidade. A Praça da Estação é um importante marco já que foi construída no final do século XIX e sua história coincide com a história da Capital.

Primeiros ajustes

Quando eu fui convidado como curador, a exposição estava com início atrasado. Ao avaliar o escopo do projeto, percebi imediatamente que ele havia perdido sentido: prevista como uma ação comemorativa dos 120 anos de Belo Horizonte, a exposição deveria ter sido realizada em 2017 com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. O nome pensado no início era BH 120 estações e levaria ao MAO 120 itens do acervo do museu e de instituições parceiras.

A exposição seria dimensionada para articular três recortes que previam montagens e desmontagens individuais. Ao analisar as condições possíveis para realização da exposição, percebi que eu deveria propor diversos ajustes conceituais e práticos para que a tudo desse certo.

Recortes e camadas

Os recortes iniciais eram “estação”, “praça” e “pessoas”. Considerando que a história na cidade é plural e entrecruzada, optei por abrir mão da ideia de “recorte” para trabalhar com a ideia de “eixos” organizados em “camadas”, considerando as materialidades, as narrativas e, claro, as experiências. Com esta proposta eu busquei ampliar ainda mais as possibilidades narrativas e viabilizar sua realização com os recursos disponíveis.

A exposição se resolveu com a instalação constante de camadas, aumentando a ocupação das galerias, prevendo apenas uma desmontagem.

O projeto expográfico realizado pelo Micrópolis e a identidade visual levaram em consideração todos esses aspectos, resultando em uma alternativa flexível.

Linha do tempo

Elaboramos uma linha do tempo baseada no desenho do Rio Arrudas, que hoje passa canalizado em frente ao Museu. Entre as várias linhas do tempo possíveis, busquei apresentar elementos de um conjunto urbano em mutação, que segue como o Ribeirão Arrudas e seu sinuoso percurso resistindo ao próprio apagamento.

Montagem

Optamos por trabalhar com reproduções e uma estética inspirada em lambes. Uma grande parte dos itens expostos e toda a sinalização foi impressa em papel colorplus colorido. Convidamos o artista Comum para aplicação de tudo.

Educativo

O processo de curadoria considerou a ampliação das possibilidades de ação do educativo do museu. Além disso, estavam previstas ações pontuais marcando a abertura de cada eixo como oficina de maquetes, pinhole e sessão de retratos pontuais.

In February 2020, together with Coletivo Mofo, I organized an activity called “Photographic Expedition.” The activity involved a group of 20 people walking along Aarão Reis Street in downtown Belo Horizonte. Each participant used their cellphone in airplane mode to capture images, which were later used in the second phase of the activity to create a zine.

Visit BDMG Cultural to access photos and the full account of the activity.

Flores em minha camisa numa tarde do bairro  E enquanto caminho pelas ruas da cidade lembro que uma sobremesa me espera em casa…

In August 2018, I participated in a collective exhibition at Galeria do Quarto Amado in Belo Horizonte, titled “Sobremesa” (Dessert). The exhibition featured photographs by selected members of the collective, which were arranged and assembled through cutouts and collages by Rafael Rasone. It also included installations produced by myself and other members of the collective. All the texts were written by me.

The exhibition originated from a series of meetings. We had the invitation and the space, but we didn’t have any investment or financial support. In addition to this challenge, we needed to find a way to bring the collective’s identity into the gallery space. At the time, we were nine members, each with a different language and/or creative process related to photographic practices. We wondered how we could relate the nine artists and diminish the individuality and authorship of each, while emphasizing the essential elements of our collective experience.


I had already noticed that Rafael was developing an interesting practice with photographic cutouts using landscapes from our city, and I realized it would be a challenge to work with the photographs taken by members of the collective. We also didn’t want the formality of works presented in frames, so we decided to occupy the gallery with collages in a lambe-lambe style, using cheaper prints and on a larger scale than Rafael had previously done. In the end, we had 9 panels, 2 installations, 1 video, and 4 interconnected texts that expressed the collective’s relationship with the city and the members’ relationships with each other. We were very pleased with the result and the power of the collective artistic work.

Technical Information Curatorship and assembly: Rafael Rasone Photographs: Athos Souza, Bernardo Silva, Carlos Oliveira, Erick Ricco, Nathália Santos, Rafael Rasone, Piero D’Ávila, Vitor Jabour Video: Carlos Oliveira, Athos Souza Installations: Carlos Oliveira, Piero D’Ávila, Bernardo Silva Texts: Carlos Oliveira Production: MOFO Collective, Quarto Amado

Fui convidado para produzir o texto de apresentação da exposição TRANSE S T A R, do fotógrafo Douglas Mendonça, que foi exibida entre 3 de julho e 4 de agosto de 2019 na Galeria de Arte Seis Minas.

Com curadoria de Ticha Maria, TRANSE S T A R é uma série de fotografias que retratam parte da grande Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, visando uma narrativa sobre o lugar / espaço que o cidadão ocupa ou se faz presente na cidade.

Douglas é nascido em Belo Horizonte, morador de Betim / MG. Estudante de design gráfico pela Escola de Design – UEMG. Ele também é pesquisador e produtor de conteúdo para Revista Tangerine, publicação dedicada a trabalhos fotográficos da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG onde também já colaborou como produtor gráfico e diagramador. Integra o Núcleo de Design e Fotografia (NUDEF) da Escola de Design (UEMG), Coletivo Mofo e o Al-Químico (Grupo de experimentação em fotografia de base química) da Escola De Belas Artes, Ufmg.


Venho acompanhando a produção artística do Douglas com a fotografia. Seus recortes urbanos funcionam muito bem para reinventar percursos na cidade. Segue o texto:

TRANSE S T A R

É possível pensar a cidade enquanto palco de ações humanas, ou como cenário ilustrativo para vida social contemporânea. Contudo, a série TRANSE S T A R, do fotógrafo Douglas Mendonça, ressignifica essa percepção e multiplica as realidades urbanas, evidenciando que as narrativas sobre a cidade só podem ser plurais. A cidade se fragmenta a partir dessa multiplicidade de narrativas, exigindo do fotografo uma imersão sem roteiros, sem fórmulas. Nesse processo, o fotógrafo trabalha a partir da correlação entre experiência e experimento, coletivo e indivíduo. Assim, a cidade deixa de ser percebida por uma relação utilitária, que a define como cenário ou paisagem complementar.

Três elementos podem ser destacados no processo artístico de Douglas Mendonça: a transitoriedade da experiência do indivíduo que vive as transformações urbanas; a deriva como experiência do fotógrafo que vai às ruas e reconhece no acaso as possibilidades de liberdade; e a retomada das relações afetivas com o espaço e com as transeuntes desconhecidas que a compõem.

O artista nos apresenta uma urbanidade em fragmentos, porém remontada de forma que não dissociar cidade e pessoas – um permeia o outro como suporte da experiência, e como experimento do fotógrafo. TRANSE S T A R, portanto, reflete simultaneamente o deslocamento, o lugar, a origem e o incerto. É um convite ao estabelecimento de uma nova relação com as cidades que nos habitam.

Carlos Oliveira

No dia 19 de outubro eu representei o Coletivo Mofo no curso de arte do Instituto Amado. Intitulado “Arte & Experimentações na Cidade”, o curso reuniu diversos jovens artistas, produtores e agentes culturais de Belo Horizonte e Região metropolitana com objetivo de proporcionar uma experiência artística realmente conectada com a cidade.


Pensando nas experiências fotográficas possíveis no espaço urbano, eu elaborei um percurso pela cidade que se iniciou no laboratório do Coletivo Mofo e passou pelo Studio Fótico e Super Câmera. A ideia era promover uma experiência livre com a fotografia estimulando processos criativos baseados em técnicas diversas e percepções da cidade.

O curso foi dividido em 4 partes e teve duração de 8 horas.

Parte 1 – Processos criativos e fotografia experimental com Coletivo Mofo

Parte 2 – A experiência na cidade

Parte 3 – O tempo do retrato com Studio Fótico

Parte 4 – A fotografia nos tempos da internet, uma visita ao Super Câmera

Entre as partes 3 e 4 conseguimos fazer um desvio e passar no CRJ para conhecer a câmera escura gigante que reproduz o fenômeno físico-ótico de formação da imagem/príncipio da fotografia. A Câmera foi construída pelo Alexandre Lopes na programação do Ocupar Espaços 2019, evento realizado pela Oficina de Imagens.

No primeiro semestre de 2019 os amigos do Coletivo Conectores me pediram apoio técnico como historiador na elaboração de uma retrospectiva da história política do Brasil que serviria de base para o espetáculo HOJE, que estreou com casa cheia no Galpão Cine Horto no dia 19/07.

Foi minha primeira vez oferecendo esse tipo de apoio e eu achei simplesmente incrível acompanhar uma parte da concepção do espetáculo e depois ver tudo pronto e montado em uma estreia.

Em 2019 eu representei o Coletivo Mofo na curadoria das imagens da convocatória da Super Câmera, importante loja de suprimentos fotográficos especializada em fotografias analógicas. Recebemos mais de 400 fotos de 30 cidades diferentes em todo o Brasil. Na ocasião eu também elaborei o texto de abertura da exposição que segue abaixo:

A permanência da imagem na era dos algoritmos e tecnologias digitais está em conflito com a experiência fotográfica contemporânea. As imagens que produzimos incessantemente desde a popularização dos aparelhos digitais nos anos 2000 parecem perder sentido no primeiro momento posterior ao seu arquivamento digital. Paradoxalmente, a prática fotográfica vêm sendo reforçada em um momento caracterizado pelo esvaziamento da imagem associada ao registro, à documentação e mesmo em relação à memória. 

A fotografia analógica que resistiu ao falacioso discurso de que seria substituída definitivamente pelas tecnologias digitais, por outro lado, é dependente dessa permanência. Ela tem sido resistência, e tem encontrado na popularização da experiência comum, um impulso para se restabelecer enquanto processo de produção da imagem. A experiência do tempo, do encontro, da troca, da percepção da materialidade do mundo encontrou na fotografia analógica uma alternativa para toda essa evasão de imagens. E e a fotografia analógica tem se beneficiado diretamente com a constituição das redes virtuais. 

Esta breve seleção de fotos celebra as comemorações do primeiro ano da Super Câmera. Com ela demarcamos a posição em relação ao conflito entre tecnologia e experiência: escolhemos a permanência da imagem.

Carlão

Coletivo Mofo

Super Câmera

No dia 5 de dezembro de 2016 eu estive em uma escola de ensino fundamental do SESI na região do Barreiro, em Belo Horizonte, para conversar com cerca de 50 alunos sobre cidade, urbanismo e espaços públicos. 

Depois de passar um ano conversando com muitos adultos em congressos nacionais e internacionais eu aceitei com muita alegria o convite do professor Bruno Freire e da direção da escola para conduzir uma conversa franca e aberta com o grupo de estudantes com idade entre 11 e 13 anos.

Uma conversa com crianças e adolescentes sobre a cidade é um processo de trocas e aprendizados muito rico que pode nos levar a perceber com mais sensibilidade os espaços públicos enquanto espaços de construção constante da experiência de vida nas cidades. Enquanto alguns estudiosos defendem o ensino de urbanismo nas escolas desde o ensino básico, eu acredito na conjugação entre a educação dentro da escola e aquela fora do ambiente escolar como uma das possibilidades de se escapar do formalismo e autoritarismo que sustentam as nossas concepções de cidade. Ou seja, a relação dos processos educativos com a cidade deve buscar bases antiautoritárias e não-tradicionais para que a subjetividade e a experiência de livre apropriação do território sejam efetivamente ferramentas de transformação do espaço urbano. 

eu publiquei Colin Ward – a escola e a cidade no portal Vitruvius em setembro de 2016 . Trata-se de algumas considerações sobre a importância das contribuições do autor para experiência na cidade. Colin Ward (1924-2010) foi um proeminente e participativo anarquista britânico que se dedicou à educação, à infância e à cidade de uma maneira vigorosa e criativa, contribuindo no Reino Unido para uma visão mais aberta do que concerne o complexo sistema de interseção entre a construção da autonomia, escola, espaço público, habitação e herança cultural. Um comentário mais amplo sobre o artigo está disponível aqui no site através do link.

https://deslocamentos.com/#colin-ward-a-escola-e-a-cidade