Fui convidado para produzir o texto de apresentação da exposição TRANSE S T A R, do fotógrafo Douglas Mendonça, que foi exibida entre 3 de julho e 4 de agosto de 2019 na Galeria de Arte Seis Minas.

Com curadoria de Ticha Maria, TRANSE S T A R é uma série de fotografias que retratam parte da grande Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, visando uma narrativa sobre o lugar / espaço que o cidadão ocupa ou se faz presente na cidade.

Douglas é nascido em Belo Horizonte, morador de Betim / MG. Estudante de design gráfico pela Escola de Design – UEMG. Ele também é pesquisador e produtor de conteúdo para Revista Tangerine, publicação dedicada a trabalhos fotográficos da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG onde também já colaborou como produtor gráfico e diagramador. Integra o Núcleo de Design e Fotografia (NUDEF) da Escola de Design (UEMG), Coletivo Mofo e o Al-Químico (Grupo de experimentação em fotografia de base química) da Escola De Belas Artes, Ufmg.


Venho acompanhando a produção artística do Douglas com a fotografia. Seus recortes urbanos funcionam muito bem para reinventar percursos na cidade. Segue o texto:

TRANSE S T A R

É possível pensar a cidade enquanto palco de ações humanas, ou como cenário ilustrativo para vida social contemporânea. Contudo, a série TRANSE S T A R, do fotógrafo Douglas Mendonça, ressignifica essa percepção e multiplica as realidades urbanas, evidenciando que as narrativas sobre a cidade só podem ser plurais. A cidade se fragmenta a partir dessa multiplicidade de narrativas, exigindo do fotografo uma imersão sem roteiros, sem fórmulas. Nesse processo, o fotógrafo trabalha a partir da correlação entre experiência e experimento, coletivo e indivíduo. Assim, a cidade deixa de ser percebida por uma relação utilitária, que a define como cenário ou paisagem complementar.

Três elementos podem ser destacados no processo artístico de Douglas Mendonça: a transitoriedade da experiência do indivíduo que vive as transformações urbanas; a deriva como experiência do fotógrafo que vai às ruas e reconhece no acaso as possibilidades de liberdade; e a retomada das relações afetivas com o espaço e com as transeuntes desconhecidas que a compõem.

O artista nos apresenta uma urbanidade em fragmentos, porém remontada de forma que não dissociar cidade e pessoas – um permeia o outro como suporte da experiência, e como experimento do fotógrafo. TRANSE S T A R, portanto, reflete simultaneamente o deslocamento, o lugar, a origem e o incerto. É um convite ao estabelecimento de uma nova relação com as cidades que nos habitam.

Carlos Oliveira

No dia 19 de outubro eu representei o Coletivo Mofo no curso de arte do Instituto Amado. Intitulado “Arte & Experimentações na Cidade”, o curso reuniu diversos jovens artistas, produtores e agentes culturais de Belo Horizonte e Região metropolitana com objetivo de proporcionar uma experiência artística realmente conectada com a cidade.


Pensando nas experiências fotográficas possíveis no espaço urbano, eu elaborei um percurso pela cidade que se iniciou no laboratório do Coletivo Mofo e passou pelo Studio Fótico e Super Câmera. A ideia era promover uma experiência livre com a fotografia estimulando processos criativos baseados em técnicas diversas e percepções da cidade.

O curso foi dividido em 4 partes e teve duração de 8 horas.

Parte 1 – Processos criativos e fotografia experimental com Coletivo Mofo

Parte 2 – A experiência na cidade

Parte 3 – O tempo do retrato com Studio Fótico

Parte 4 – A fotografia nos tempos da internet, uma visita ao Super Câmera

Entre as partes 3 e 4 conseguimos fazer um desvio e passar no CRJ para conhecer a câmera escura gigante que reproduz o fenômeno físico-ótico de formação da imagem/príncipio da fotografia. A Câmera foi construída pelo Alexandre Lopes na programação do Ocupar Espaços 2019, evento realizado pela Oficina de Imagens.

No primeiro semestre de 2019 os amigos do Coletivo Conectores me pediram apoio técnico como historiador na elaboração de uma retrospectiva da história política do Brasil que serviria de base para o espetáculo HOJE, que estreou com casa cheia no Galpão Cine Horto no dia 19/07.

Foi minha primeira vez oferecendo esse tipo de apoio e eu achei simplesmente incrível acompanhar uma parte da concepção do espetáculo e depois ver tudo pronto e montado em uma estreia.

I have extensive experience in social and environmental responsibility projects, supporting organizations in fulfilling their legal obligations related to the environment, historical heritage, culture, diversity, and equity. I have experience in formulating public policies and managing and developing projects in the technology field.

I hold a master’s and doctoral degree from Unicamp, with a study period at l’HESS in Paris, France. I have conducted original academic research on knowledge circulation, urban cultures, and heritage between the Americas and Europe in urban planning.

My professional journey so far has been marked by a multitude of experiences and challenges that have required creativity and competence in dealing with multidisciplinary teams and diverse areas. As a consultant for the mining sector in Brazil, I helped create strategies for interaction between companies and impacted communities. As a historian, I independently researched topics such as culture, politics, society, urban design, public space, and public administration, and curated projects and exhibitions on social themes in major institutions. I have contributed to the formulation of public policies for the allocation of resources for culture and heritage in the municipality of Belo Horizonte and have led development teams in the technology field with independent projects.

Currently, I am a socio-institutional specialist at the Renova Foundation, working to implement the Technical Information Center and a digital repository, www.citdoriodoce.org, on the reparation of damages caused by the Fundão dam collapse in Mariana, MG. I manage a budget of approximately 20 million Brazilian reais to serve 48 municipalities in the states of Minas Gerais and Espírito Santo.

Throughout my professional journey, I have engaged in volunteer activities related to housing, art, culture, and education. I am a cyclist and a vegan.

Em 2019 eu representei o Coletivo Mofo na curadoria das imagens da convocatória da Super Câmera, importante loja de suprimentos fotográficos especializada em fotografias analógicas. Recebemos mais de 400 fotos de 30 cidades diferentes em todo o Brasil. Na ocasião eu também elaborei o texto de abertura da exposição que segue abaixo:

A permanência da imagem na era dos algoritmos e tecnologias digitais está em conflito com a experiência fotográfica contemporânea. As imagens que produzimos incessantemente desde a popularização dos aparelhos digitais nos anos 2000 parecem perder sentido no primeiro momento posterior ao seu arquivamento digital. Paradoxalmente, a prática fotográfica vêm sendo reforçada em um momento caracterizado pelo esvaziamento da imagem associada ao registro, à documentação e mesmo em relação à memória. 

A fotografia analógica que resistiu ao falacioso discurso de que seria substituída definitivamente pelas tecnologias digitais, por outro lado, é dependente dessa permanência. Ela tem sido resistência, e tem encontrado na popularização da experiência comum, um impulso para se restabelecer enquanto processo de produção da imagem. A experiência do tempo, do encontro, da troca, da percepção da materialidade do mundo encontrou na fotografia analógica uma alternativa para toda essa evasão de imagens. E e a fotografia analógica tem se beneficiado diretamente com a constituição das redes virtuais. 

Esta breve seleção de fotos celebra as comemorações do primeiro ano da Super Câmera. Com ela demarcamos a posição em relação ao conflito entre tecnologia e experiência: escolhemos a permanência da imagem.

Carlão

Coletivo Mofo

Super Câmera

Estática é uma banda de expoentes da cena punk de Belo Horizonte. Alguns dos integrantes têm projetos musicais juntos desde 1995. Entre 2017 e 2019 eu acompanhei a banda durante a produção do seu primeiro disco e fotografei alguns shows.

As cenas a seguir foram registradas na ocupação urbana anarquista Kasa Invisível, localizada no centro de Belo Horizonte no dia 14 de junho de 2019.

Não se vive em um espaço neutro e branco; não se vive, não se morre, não se ama no retângulo de uma folha de papel. Vive-se, morre-se, ama-se em um espaço quadriculado, recortado, matizado, com zonas claras e sombras, diferenças de níveis, degraus de escada, vãos, relevos, regiões duras e outras quebradiças, penetráveis, porosas. Há regiões de passagem, ruas, trens, metrôs; há regiões abertas de parada transitória, cafés, cinemas, praias, hotéis, e há regiões fechadas de repouso e moradia.

O Corpo Utópico, as heterotopias. Michel Foucault.

Heterotopia é um conceito que significa literalmente “outros lugares” e serve para descrever um mundo descentralizado em relação aos espaços normais ou cotidianos, que podem ter significados múltiplos, fragmentados ou mesmo incompatíveis com a realidade.

Heterotopias, enquanto projeto fotográfico, é uma investigação experimental em elaboração desde 2016 que desdobra as incompatibilidades, fragmentações e multiplicidades de significados do espaço e da realidade construída a partir da imagem fotográfica experimental.